Ep. 81 - Como passar de nível intermédio a avançado

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Descrição do episódio

Este episódio é sobre como superar o plateau intermédio de aprendizagem de uma língua.

Transcrição

Olá e bem-vindo ou bem-vinda a mais um episódio do Podcast Intermédio do Portuguese With Leo.

E o tema de hoje é precisamente sobre o nível intermédio. Como superar o nível intermédio quando estamos a aprender uma língua nova? Como superar o plateau intermédio e atingir um nível avançado?

Esta ideia surgiu porque, na verdade, hoje também, na mesma data e hora em que estou a publicar este podcast, também publiquei um vídeo no YouTube em que mostro como comecei a aprender romeno e o objetivo do vídeo é mostrar precisamente como é que eu aprendo uma língua nova desde o início. 

E, portanto, pensei, já que naquele vídeo mostro um pouco o processo, a estratégia para passar do nível 0 a 1 nível principiante, alto e intermédio. Como é que depois passamos do nível intermédio para o nível avançado? E decidi falar sobre isso neste episódio. 

E esta é talvez uma das coisas mais importantes e uma das maiores dificuldades quando aprendemos uma língua nova. Porque quando estamos a iniciar, quando somos principiantes, é muito fácil sentir que estamos sempre a fazer progresso. 

Cada minuto, hora que dedicamos à aprendizagem desta língua nova, sentimos que estamos a aprender coisas novas, que tudo é novo, que tudo é progresso... Vocabulário novo, gramática nova, etc.

Mas depois, à medida que o nosso conhecimento da língua começa a aumentar, começamos a aperceber-nos de todo o vasto universo de coisas que podemos aprender, de formas de utilizar a língua, e de repente sentimos que não estamos a progredir. 

Fora daqueles sistemas iniciais, quando se começa a aprender uma língua de frases básicas, gramática básica, etc. Quando começamos a explorar tudo aquilo que há a aprender, sentimos que por mais tempo que dediquemos à língua, não avançamos.

Sim, estamos a aprender coisas novas, mas por mais que aprendamos, ainda não conseguimos falar a língua, ainda não conseguimos ter uma conversa que dure mais do que um ou dois minutos sem termos de pensar "Espera aí, como é que se diz aquilo que eu quero dizer? Espera aí. Eu não sei criar esta frase da forma que eu a quero criar, com a estrutura certa nesta língua."

E estamos sempre ali a atropelar-nos enquanto falamos. Ou seja, no início tudo é progresso, tudo é novo, tudo é "divertido e interessante". Depois chegamos a este nível em que por mais tempo que dediquemos, parece que continuamos sem atingir o objetivo de conseguir falar.

Mas quando superamos este plateau, quando começamos a efetivamente conseguir usar a língua, voltamos a sentir que tudo é fácil, porque já sabemos usar a língua, temos as nossas falhas, mas a aprendizagem de coisas novas torna-se simplesmente preencher os espaços que faltam ou limar as arestas. 

Corrigir as coisas que ainda não falamos bem ou que ainda não sabemos bem, mas no geral, já temos um domínio da língua que nos permite usá-la. E portanto, no episódio de hoje quero explicar-te quais é que são as minhas estratégias para passar deste nível intermédio de "estou a aprender coisas novas, mas sinto que não as consigo aplicar.

Sinto que quando tento falar a língua não me sai naturalmente, não penso na língua, não flui", para nível avançado. 

"Apesar dos meus erros, consigo usar a língua, consigo entrar numa conversa e conversar, conversar, conversar. E sinto que progrido, porque cada nova conversa eu aprendo uma coisinha nova que me permite aperfeiçoar cada vez mais aquela língua que eu já sei falar".

Portanto, é esse o objetivo de superar o plateau intermédio. E para explicar quais é que são as minhas estratégias, vou obviamente basear-me na minha experiência, porque é aquilo que eu que eu consigo explicar com mais certeza. Saõ as coisas que eu próprio fiz e que resultaram para mim. 

Para isso, vou usar três línguas que aprendi. Em duas delas passei do plateau intermédio e falo fluentemente e falo muito bem. Outra, estou neste momento a superar o plateau intermédio.

As línguas são o italiano, o francês e o alemão. E se tu me conheces e já segues os meus conteúdos há algum tempo, já sabes qual destas é que é aquela que ainda não superei, mas estou neste momento a superar o plateau intermédio. É o alemão.

Portanto, vou explicar-te como é que passei do nível intermédio para o nível avançado em italiano e em francês e as lições que retiro dessa minha experiência e como é que não consegui passar do nível intermédio para o nível avançado em alemão no passado, e as lições que retiro daí. 

E aquilo que agora estou a fazer para conseguir passar e as lições que retiro daí novamente. Portanto, vai ser um episódio com muitas lições. E antes de avançarmos, como eu disse, este episódio é a continuidade do vídeo que eu também fiz sobre como começar a aprender uma língua. Sugiro que vejas esse vídeo. O link está na descrição e vamos começar então com o italiano. 

O italiano é uma língua que eu comecei a aprender em 2014 e hoje em dia tenho um nível... No verão de 2014... E hoje em dia tenho um nível em que muitos italianos não se apercebem de que eu não sou italiano. Durante os primeiros dez minutos de conversa até eu fazer algum erro ou até, pronto, até haver ali qualquer coisa que mostra "ok, se calhar este gajo não é nativo desta língua". Portanto, um nível quase nativo.

Como é que eu consegui atingir este nível tão alto? Em primeiro lugar, eu tinha muita motivação para aprender o italiano, desde que comecei. Eu comecei a estudar italiano no verão de 2014 porque em outubro de 2014 fui viver para a Itália durante dez meses, para fazer um intercâmbio universitário.

Não penses que consegui atingir este nível porque vivi em Itália. Porque a verdade é que eu tinha aulas em italiano, é verdade, mas não ia às aulas todas e depois o meu dia a dia era passado com os meus colegas de casa portugueses e com os meus amigos portugueses e espanhóis.

Portanto, viver no país ajudou, mas não foi de todo aquilo que me fez atingir um nível avançado. Durante os meus dez meses em Itália, consegui atingir um nível intermédio. Mas só passei de intermédio para avançado quando voltei para Lisboa e em Lisboa comecei a dar-me muito com italianos.

Ou seja, comecei a criar muitas amizades com estudantes italianos que estavam a fazer o seu intercâmbio universitário aqui em Lisboa. E por outro lado, também comecei a ler em italiano para usar um pouco mais a língua. Portanto, mantive o contacto com a língua e usei-a em situações em que tinha de a usar, nomeadamente as interações sociais com estas pessoas.

Ou seja, isso foi o primeiro passo para superar o plateau intermédio. Foi usar o italiano e estabelecer relações desde o princípio em italiano. É muito fácil usarmos o inglês para comunicar com pessoas que não falam a mesma língua que nós, mas normalmente quando começamos uma relação numa língua depois é muito difícil mudar para outra língua.

Felizmente para mim, a maior parte dos italianos que eu conheci que vieram para Portugal não falavam grande inglês, portanto foi muito fácil começar as relações com eles diretamente em italiano, mesmo apesar do meu italiano ainda ser intermédio. Porque apesar de tudo, era melhor do que o inglês deles.

Se por acaso eles soubessem falar bem inglês, a nossa tendência natural teria sido para criar as nossas amizades, estabelecer as nossas amizades em inglês e eu provavelmente nunca teria tido as mesmas oportunidades para falar italiano com essas pessoas que tive, porque teria começado em inglês e depois nunca teria mudado para italiano.

Portanto, a primeira lição é esta, é: dentro do possível, fazer um esforço para criar relações com falantes nativos da língua que estamos a aprender logo nessa língua desde o início. Mesmo que seja difícil e mesmo que exista outra língua que poderíamos estar a falar que tornaria a comunicação muito mais fácil. Língua essa que normalmente é o inglês para a maior parte das pessoas. 

A segunda coisa que eu fiz que que me ajudou muito e um pouco motivado por estas relações, estas amizades com pessoas italianas foi: eu pensei, "eu acabei de voltar de Itália, estou agora em Portugal com amigos italianos e sei que o meu italiano provavelmente nunca será tão bom como é agora, porque agora tenho estes amigos, mas no futuro irei acabar a universidade, irei começar a trabalhar, fazer a minha vida em Portugal. 

Provavelmente deixarei de usar o italiano e aquilo que nós sabemos sobre línguas é que se deixamos de usar qualquer língua, normalmente, perdemos um pouco a nossa capacidade de falar essa língua.

Portanto, eu pensei "o meu italiano está no seu pico e provavelmente nunca será tão bom como é agora. Portanto, quero congelar este momento no tempo e quero fazer um exame, um certificado de italiano para poder dizer que tenho esse nível". 

Na altura eu dava mais importância a esses certificados. Já já lá vão oito anos. Hoje em dia não me interessa assim tanto ter certificados de línguas, mas na altura pensei "quero ter este certificado que é para daqui a uns anos, quando não falar tão bem italiano, olhar para trás e pensar "Fogo, eu tive um C1 de italiano"".

E portanto, foi isso que decidi fazer. Fazer o exame de C1. Mas antes de me inscrever no exame eu descarreguei uns exames tipo da net, da internet. E quando fiz o exame de C1, achei-o relativamente fácil. Pensei "epá, eu com pouco estudo, quase sem estudar, consigo passar este exame. Porque não tentar um C2?" 

É o nível mais alto. Já agora, os níveis C1 e C2, estou a falar dos níveis do Quadro Europeu de Referência para Línguas em inglês CEFR Common European Framework of Reference. Portanto os níveis são A1, A2, B1, B2, C1, C2.

O C2 é, digamos, o nível mais alto que se pode ter numa língua estrangeira. Claro que depois existe muita coisa que se pode aprender depois de se atingir o nível C2, mas a nível académico e a nível de avaliação dos nossos conhecimentos de uma língua estrangeira, o C2 é o mais alto.

E eu pensei, "sinto que com algum esforço consigo fazer o exame de C2 e ter este nível". E fui motivado pelos meus amigos italianos que viviam em Lisboa. Portanto, estamos a falar de 2015, 2016, não. 2015. Setembro, outubro, novembro de 2015.

Inscrevi-me no exame e o exame era nesse inverno, ou seja, se não me engano dezembro de 2015. Portanto, eu tinha começado a aprender italiano no verão de 2014. Durante esse ano em Itália, até ao verão de 2015 tinha atingido um nível intermédio e depois, naqueles meses de setembro e outubro e novembro de 2015, foi quando eu consegui passar do intermédio para avançado para em dezembro fazer este exame de C2. 

E quando eu paguei os 90 € para me inscrever no exame, que na altura para mim era muito dinheiro e quando efetivamente não havia volta a dar e decidi "vou fazer este exame, já paguei, está decidido", eu não queria fracassar.

E portanto, isso deu me imensa motivação para estudar ativamente italiano para atingir o nível C2 e, portanto, esta é a segunda lição que é: se definirmos um prazo, um momento no tempo, um prazo no tempo, no futuro em que temos de ter determinado nível ou temos de ter determinadas capacidades naquela língua, isso vai-nos obrigar a trabalhar para chegar lá muito mais do que se não tivermos esse tipo de pressão e simplesmente formos aprendendo a língua quando nos dá vontade. 

Faz uma grande diferença termos um objetivo com uma data e ter de cumprir esse objetivo, ter de atingir esse nível, quer queiramos quer não. E foi o que aconteceu e consegui passar o exame. Tive nota C, ou seja, A, B, C. Se eu tivesse tido um D, teria chumbado. 

Ou seja, tive mais de 60%, porque no exame de C2 é preciso o mínimo 60% para passar. Mas na altura fiquei muito feliz porque em um ano e meio conseguir ter um C2 de italiano foi mesmo "uau"!

Depois, com o passar do tempo, acabei por continuar a fazer amizades com pessoas italianas e acabei por continuar a falar italiano. E hoje em dia falo bastante melhor italiano do que falava quando fiz esse exame, mas na altura foi uma grande vitória e acho que foi o que me deu assim, aquele boost, aquela passagem do nível intermédio em que progredimos, mas não muito, para o nível avançado em que depois usava a língua no dia a dia com alguma facilidade. 

Finalmente, outra coisa que fiz em italiano mais tarde, em 2017, quando senti que já tinha um controlo melhor da língua, foi comecei a escrever o meu diário em italiano. Eu tenho um diário, caso não soubesses.

Aliás, este episódio é o segundo episódio deste podcast em que eu, em que eu falo para o microfone apenas em formato de podcast. Os primeiros 80 episódios deste podcast foram todos filmados em formato de vídeo para o YouTube e depois coloquei a versão áudio desses vídeos aqui no podcast. 

Não sei se me estás a ouvir no Spotify ou no Apple Podcasts, onde quer que seja, mas a partir do último episódio decidi começar a fazer só podcasts exclusivamente, o que me permite falar com mais naturalidade e também falar, digamos, durante mais tempo e se calhar de forma um pouco mais pessoal.

E estou a dizer isto porque, como eu disse, tenho um diário e no próximo episódio e nos próximos dois episódios vou dar-me a conhecer um pouco mais, falar sobre coisas mais pessoais, incluindo esse diário e digamos que vai ser um renascer deste podcast. 

Vou dar-me a conhecer um pouco mais para tu saberes quem é esta pessoa que está a falar contigo, que ouves a falar português e que usas para melhorar o teu português. E depois falarei de outros temas, claro. Não vai ser só um podcast sobre mim, nem quero que seja só isso. Quero também falar sobre Portugal e outras coisas.

Pronto, isto foi um pequeno aparte. Voltamos às lições que eu retirei da minha aprendizagem de línguas. Como eu estava a dizer, comecei a escrever o meu diário em italiano, que é uma coisa muito pessoal. É o diário que eu tenho desde 2015.

E em que escrevo, falo sobre a minha vida, sobre as coisas que me acontecem e felizmente, na altura, um dos meus melhores amigos e que ainda é um dos meus melhores amigos, é um rapaz italiano que é o Matteo, que prestou-se a ajudar-me a corrigir. 

Ou seja, eu não tinha problemas em partilhar com ele as coisas que eu escrevia pessoais em italiano, porque temos esse nível de amizade e ele corrigia o meu italiano e portanto, eu consegui evoluir muito com este exercício.

Claro que nem todos temos esta possibilidade de escrever um diário e ter alguém que nos corrija. Portanto, a lição aqui é mais usar a língua no dia a dia. Não tem de ser um diário, não tem de ser coisas pessoais, mas usar a língua tanto na forma escrita, ou seja, escrever, como na forma oral, ou seja, falar.

Mas não é só usar a língua e usá-la a um nível alto. Ou seja, não é só escrever listas de compras. Isso é bom no início, mas estou a falar de escrever textos mesmo mais profundos, com estruturas gramaticais e vocabulário mais avançado e ter alguém que nos corrija. Idealmente um professor. Se tivermos essa possibilidade financeira, pagar alguém para o fazer.

A minha sugestão é, por exemplo, marcares, teres aulas privadas com alguém em que escreves textos para essa pessoa corrigir e durante a aula falas e essa pessoa dá-te feedback e fala contigo, e portanto assim estás a treinar a parte escrita e a parte oral. Portanto, estas são as lições que retirei com o italiano. 

Com o francês, passamos agora para o francês. Reforcei estas lições e aprendi uma nova. Como é que eu aprendi francês? A minha história com o francês vem desde os meus..., desde a minha adolescência, em que tive três anos de francês na escola e acho que toda a gente que passou por algum tipo de educação pública aprendeu línguas na escola.

E, no entanto, isso não quer dizer que saibamos falar essas línguas. Portanto, acho que consegues colocar-te no meu lugar quando digo que tive três anos de francês na escola. Aprendi algumas coisas e se calhar aprendi mais do que a maioria dos meus colegas, porque sempre tive este interesse particular por aprendizagem de línguas e, portanto, era uma das minhas disciplinas preferidas.

No entanto, não foram esses três anos de francês na escola que me ensinaram a falar francês, como falo hoje em dia. Em 2020... Portanto, tive estes três anos de francês na escola há muitos anos, depois nunca mais usei o francês na vida, e em 2020, quando tivemos a pandemia e eu na altura estava a trabalhar como guia turístico, fiquei sem trabalho.

Fiquei uns meses em casa e portanto decidi "quero aproveitar estes meses para fazer alguma coisa de produtivo. Vou focar-me no meu francês." Nesta altura eu já falava italiano fluentemente e obviamente falava português e espanhol que sempre falei e portanto, sentia que com um pouco de esforço, conseguiria avançar rapidamente no francês, porque é uma língua muito parecida a estas línguas que acabei de mencionar, sobretudo o italiano.

Portanto, tinha essas vantagens e foi isso que eu fiz. E a primeira lição foi o input compreensível. Ou seja, eu mergulhei no francês. Eu descobri, comecei a ver vídeos no YouTube, descobri alguns canais de YouTube em que as pessoas desses canais falavam devagar para se perceber bem aquilo que eles estão a dizer.

E é precisamente esse o conceito deste podcast e até foi inspirado por estes canais de YouTube e podcasts franceses que eu iniciei este podcast que estás a ouvir agora. Portanto, uma grande lição é quando estamos no nível intermédio, encontrar conteúdos adequados ao nosso nível. 

E eu falo disto muito. No meu canal falei disto no meu vídeo sobre como aprendi romeno, que foi publicado ao mesmo tempo que este podcast e que o link está na descrição. Portanto, acho que é uma coisa que tu já deves saber se ouves o meu podcast ou se vês os meus vídeos. 

O ideal é estarmos constantemente expostos à língua que estamos a aprender, nem que seja dez, vinte minutos por dia, meia horinha... A um nível adequado às nossas capacidades, mas apenas ligeiramente superior, que é para haver um pouco de desafio e um pouco de progressão.

Pronto, esta é a lição nova com o francês. De resto, reforcei as lições que já tinha aprendido com o italiano, que eram, como eu disse, desenvolver relações com pessoas naquela língua desde o início, mesmo que no início seja difícil, porque o nosso nível é baixo e isso limita a nossa capacidade de comunicação com essas pessoas. 

Colocar-nos um prazo no futuro, ou seja, uma data na qual vamos ter de ter um determinado nível. Com o italiano foi o exame de C2 e com o francês já te vou explicar o que é que foi. E usar a língua. Usar a língua e, idealmente, ter alguém que nos corrija quando a usamos e que nos ajude a progredir.

Como é que eu, com o francês reforcei estas lições? Começando pela questão de desenvolver relações nesta língua com pessoas. Eu tenho uma amiga que também tem um canal de YouTube em que ensina francês, chamada Elisa. 

Talvez saibas quem é. Ela já apareceu no meu canal e eu já apareci no canal dela. E quando entrámos em contacto até foi ela que me contactou. Na altura o canal dela era mais pequeno do que o meu e ela pediu-me conselhos para crescer no YouTube. É irónico estar a dizer isto agora que ela atingiu meio milhão de subscritores. Parabéns Elisa!

E eu tenho um canal mais pequeno, mas na altura foi ela que me pediu ajuda a mim e eu disse-lhe - e é claro que ela me enviou mensagem em inglês porque ela sabia que eu era português e ela não ia presumir que eu sabia falar francês e portanto, usou o inglês para comunicar comigo - e eu respondi-lhe, na altura com o meu francês ainda intermédio, disse lhe: 

"Tenho todo o gosto em dar-te conselhos, mas só te peço uma coisa em troca, é que façamos a nossa chamada por Zoom, em francês, para eu poder usar o meu francês. Ou seja, apesar de o inglês dela ser melhor do que o meu francês, eu pedi-lhe para fazermos a chamada em francês e ela ter essa paciência de falar comigo.

Ou seja, apesar de o inglês dela ser melhor do que o meu francês e apesar do facto de que a nossa comunicação seria certamente mais fácil, fluiria certamente melhor se falássemos em inglês, eu pedi-lhe para ela ter essa paciência comigo de falarmos francês para eu poder melhorar o meu francês e ela aceitou. 

E depois acabámos por nos tornar amigos com o tempo e tudo mais. E hoje em dia falamos sempre em francês um com o outro. Ou seja, o facto de eu ter estabelecido desde o início essa relação em francês fez com que fôssemos sempre falando em francês um com o outro e hoje em dia é a língua em que naturalmente falamos um com o outro.

É assim, o meu francês ainda não é tão bom como o inglês dela, portanto provavelmente poderíamos comunicar melhor em inglês. Mas dado o facto de termos começado em francês desde o início, e hoje em dia eu falo fluentemente, portanto consigo manter uma conversa de várias horas em francês.

Ou seja, dado esse facto, hoje em dia seria estranho falar outra língua que não o francês e portanto, isto reforçou mais uma vez a lição de que é importante começar relações com pessoas, quer seja de amizade, seja o que for, até relações profissionais, numa língua, porque depois vai ser essa a língua em que vamos continuar a falar. 

E até podia haver outra língua em que a comunicação é mais eficaz, mas já se desenvolveu naquela língua inicial e fica estranho mudar. Portanto, essa lição foi reforçada no francês. A lição do prazo, definirmos um prazo para atingirmos determinado nível também foi reforçado e também foi graças à Elisa.

Depois de nos termos tornado amigos e continuado a falar, não sei se fui eu, acho que foi ela que me desafiou ou se fui eu que disse "olha, se quiseres fazer uma colaboração eu ainda não sinto que o meu francês seja bom o suficiente para falar no teu canal, mas um dia destes, quando eu falar bem francês, quando eu falar a um nível em que me sinta à vontade para ter uma conversa, se quiseres, podemos fazer um vídeo para o teu canal".

Pois bem, esse vídeo já existe e já tem mais do que um ano. Talvez tenha dois anos. Não sei. Acho que o filmámos no final de 2021, ou seja, quando a Elisa me pediu ajuda para crescer no YouTube, estávamos no início de 2021.

E na altura, como eu disse, comecei a falar francês com ela, mas ainda não me sentia à vontade para, por exemplo, falar francês num vídeo para o canal dela. Mas mais tarde, em setembro, filmámos um vídeo juntos e foi precisamente ter esse prazo e essa data para filmar o vídeo em francês. Um vídeo que eu sabia que ia ser visto por milhares de pessoas no YouTube. 

Foi isso que me motivou para me esforçar e trabalhar muito mais no meu francês. Ou seja, à semelhança do que eu tinha feito com o italiano para o exame de C2, fiz agora com o francês para filmar este vídeo com a Elisa. E sinto que foi também graças a esse esforço que consegui superar o plateau intermédio, atingir um nível em que consigo conversar.

Faço os meus erros. O meu sotaque não é perfeito. Há muitas palavras que não sei e tu consegues comprovar isto. Se falares francês, podes encontrar esse vídeo no YouTube no canal dela e vais comprovar precisamente isso. Que naquela altura, apesar de tudo, tinha as minhas limitações, mas conseguia manter uma conversa relativamente fluente em francês.

E portanto, sinto que foi graças a esse vídeo e a ter de me esforçar para atingir esse nível nesse período de tempo, que consegui superar o plateau intermédio no francês. E finalmente também comecei a ler em francês, algo que eu acho que é muito útil ler numa língua.

Porque quando estamos a ouvir podcasts, mesmo que não compreendamos aquilo que está a ser dito, é uma coisa muito passiva, ouvir, ouvir outra língua e por vezes podemos nem estar a prestar muita atenção exatamente aquilo que estamos a ouvir.

Às vezes estamos a ouvir um podcast enquanto estamos no ginásio ou enquanto estamos a fazer tarefas domésticas e apanhamos assim o conceito geral daquilo que estamos a ouvir. Mas não nos focamos em todas as palavras, nem estamos ali a procurar o significado de todas as palavras que não conhecemos.

O objetivo é só estarmos expostos à língua e ir melhorando pouco a pouco. Mas quando estamos a ler um livro, toda a nossa atenção está naquela leitura. 

E, portanto, quando começamos a encontrar palavras que não conhecemos ou uma frase que não entendemos, se queremos continuar a história, se queremos continuar a perceber aquilo que estamos a ler, temos de ir procurar o significado dessas palavras e frases. 

Portanto, ler numa língua também ajuda muito. E eu, depois de ter feito esta evolução, graças a este vídeo que eu fiz no canal da Elisa, depois senti que já estava num nível em que podia começar a ler e comecei a ler em francês e isso ajudou-me ainda mais e mais tarde comecei também a escrever o meu diário em francês.

Que é, digamos, para mim assim o nível máximo em que posso dizer "fogo, falo mesmo bem esta língua", porque para ser capaz de escrever, ainda por cima uma coisa tão pessoal como é o meu diário que eu não quero "sujar", com linguagem muito mal escrita, só me permito a mim próprio escrever numa determinada língua, naquele diário, quando sinto que realmente falo essa língua a um nível bastante alto.

Então, até agora já temos quatro lições principais. Uma, estar expostos à língua, e isto podemos fazer desde o início, desde o nível principiante. Mas também é importante manter no nível intermédio. Estar expostos à língua e estar expostos a conteúdos de nível apenas ligeiramente superiores ao nosso nível da língua. 

Dois, assim que possível, começar a ler nessa língua, porque aí nós vamos obrigar-nos a pesquisar palavras e a aprender vocabulário novo. Porque se queremos ler com atenção e se queremos seguir a história que estamos a ler, temos de pesquisar as palavras que não percebemos e as frases e temos de aprender.

Terceira lição, cada vez que conhecermos alguém, que estabelecermos uma relação com alguém que fala essa língua, fazer o esforço para que essa relação seja feita nessa língua desde o início. 

E quarta lição, definir um prazo até ao qual temos de ter um determinado nível, porque é isso que nos vai motivar a trabalhar, mesmo quando não temos vontade. 

Ou seja, não é só definir um prazo, porque um prazo artificial é muito fácil nós ignorarmos. Definir um desafio. No meu caso foi o exame de C2 para o italiano e o vídeo com Elisa para o francês.

Agora eu vou-te falar da minha história com o alemão, que também reforçou algumas destas lições, mas algumas na negativa. Ou seja, não fiz aquilo que devia ter feito e portanto não evoluí tanto.

A minha história com o alemão começou antes do italiano. Começou em 2013, quando decidi aprender alemão só porque queria aprender uma língua nova e o alemão era um desafio e na altura pensei que podia ser uma língua útil, caso eu decidisse emigrar no futuro para a Alemanha, Suíça, um país deste género.

Isto era nos tempos em que eu estava a estudar medicina e achava que a minha vida ia ser ser médico. Mas falaremos sobre isto no próximo episódio, em que eu vou contar um pouco a história da minha vida... 

E comecei a aprender alemão e numa escola de línguas, portanto numa turma com outras pessoas. Ou seja, a forma muito comum de aprender uma língua, evoluir lentamente, nível A1, nível A2. Até que surgiu a oportunidade de fazer um intercâmbio na Alemanha.

Já depois do meu intercâmbio em Itália, já depois de me ter tornado fluente em italiano, o meu alemão estava já congelado no tempo, congelado no nível A2. 

Mas em 2017 surgiu a oportunidade de fazer um intercâmbio na Alemanha. E aqui, mais uma vez, reforçou-se a lição de que quando definimos um prazo e um desafio em que temos de atingir um determinado nível numa língua, trabalhamos para atingir esse nível.

Eu, para ir para a Alemanha, tinha de ter um nível B1 e tinha de o ter até determinado prazo para poder candidatar-me a este intercâmbio. E foi isso que fiz. Pus-me em aulas privadas, trabalhei a sério e atingi o nível B1 em alemão e consegui um certificado B1 e consegui fazer esse intercâmbio. 

E enquanto estive na Alemanha. Estava a trabalhar num hospital e portanto tinha de falar alemão nessa situação. E daqui, se calhar nasce outra lição que é se tivermos que trabalhar numa língua, evoluímos muito mais nessa língua, porque temos mesmo de a usar e temos de a usar o melhor possível.

Trabalhar numa língua é das coisas que mais nos ajuda a atingir um nível avançado e, portanto, durante esse tempo, na Alemanha, o meu alemão evoluiu bastante e atingi talvez o nível B2 em 2017.

Entretanto passaram seis anos e nunca mais superei esse nível B2. Nunca mais melhorei meu alemão. Até piorei porque desde que voltei da Alemanha até há uns meses atrás nunca mais usei o alemão e como ainda estava naquele nível intermédio, como o meu alemão nunca atingiu um nível muito alto, o facto de ter deixado de usar nestes últimos seis anos fez com que baixasse muito.

E portanto, o meu nível de alemão em 2017 era mais alto do que, por exemplo, o meu nível de alemão em 2019, 2020, 2021 e até 2022, e só este ano 2023 é que comecei novamente a levar a sério a minha aprendizagem de alemão. 

E comecei a aplicar as tais lições. Que eu te disse que aprendi com o italiano e com o francês. Portanto, exposição à língua constante. No último ano tenho estado a ouvir um podcast, mais do que um podcast, de nível intermédio de alemão.

Confesso que não oiço todos os dias, mas oiço o mais possível e isso tem me dado, tem me ajudado a melhorar imenso o meu alemão. Pouco a pouco, mas tem ajudado, esta exposição constante à língua.

Número dois, usar a língua. Tenho feito aulas privadas online em que sou obrigado a falar alemão e isso tem sido também tem ajudado muito. Tem sido fundamental para basicamente usar a língua, falar alemão, portanto, efetivamente fazer erros e aprender com esses erros.

Número três, que ainda não comecei, mas que vou começar agora: ler em alemão. Tal como eu te disse, ler, estar focado na leitura de um livro, ter de conhecer aquelas palavras para poder evoluir nessa leitura é das melhores formas para adquirir vocabulário e portanto, acho que uma das grandes falhas com o meu alemão é que nunca li em alemão e nunca fiz um esforço para ler.

Mesmo que no início seja difícil e estejamos sempre a procurar o significado de palavras de duas em duas frases. É preciso passar esse período de mais esforço para conseguir depois começar a ler melhor e efetivamente a adquirir vocabulário e a falar melhor. 

E finalmente, uma coisa que tenho de fazer em alemão é definir o tal prazo e o tal objetivo para atingir determinado nível. E portanto, vou definir um prazo para atingir o exame de C2. Não me vou inscrever no exame porque não quero gastar esse dinheiro e não preciso do diploma.

Vou descarregar um exame da internet porque existem exames na internet, exames tipo do Goethe-Institut, que é a entidade que regula a aprendizagem do alemão como língua estrangeira. E vou definir o prazo de Natal, Natal deste ano para fazer esse exame e passar esse exame e ter um nível C1. E mais tarde irei fazer a mesma coisa para C2. 

Já agora, para concluir, outra lição da minha aprendizagem do alemão é precisamente aquilo que eu te contei sobre desenvolver relações na língua. Um dos meus melhores amigos da vida é alemão, é o Malte, e tu poderias pensar "bem se um dos teus melhores amigos é alemão, não te deve faltar oportunidade para falar alemão". 

Não, porque nós desenvolvemos a nossa relação em inglês desde o início. E, portanto, apesar de eu às vezes falar um pouco de alemão com ele ou escrever algumas coisas em alemão, é muito mais natural tendermos para o inglês e as nossas conversas acabarem sempre por serem em inglês.

E portanto, isto é precisamente mais um exemplo da importância de criar relações naquela língua desde o início. Neste caso é um exemplo negativo, ou seja, é um exemplo de não ter feito isso e como isso afeta negativamente a minha aprendizagem do alemão. 

Espero que tenhas gostado deste episódio. Espero ter-te dado algumas dicas para superares o nível intermédio e passares para um nível avançado, em que começa a ser mais recompensador falar uma língua, porque quando estás no nível avançado, depois divertes-te com a língua. 

Consegues ver filmes, consegues ver séries, consegues ver vídeos do YouTube, consegues apreciar a comédia, a cultura, consegues ter relações mais profundas com as pessoas, consegues perceber as piadas e todas as pequenas nuances da conversa.

É muito mais divertido falar uma língua a um nível avançado. E é aí que está a verdadeira recompensa da aprendizagem de línguas. Mas para chegar a esse nível é preciso trabalho. E é por isso que eu te dei estas dicas. Espero que tenhas gostado e até ao próximo episódio.

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